quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

2010

AS PALAVRAS, Eugénio de Andrade

São como cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.


Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.



Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.


Quem as escuta?
Quem as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?


E as minhas palavras são: que em 2010 se concretizem muitos sonhos e desejos.